quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

João

A Maria João é uma das minhas cantoras portuguesas preferidas. A primeira vez que a ouvi fez-se um clique, como se a sua abordagem à voz e ao canto fosse aquilo que há muito eu procurava para mim própria enquanto cantora. Por isso, entendo-a muito bem. Entendo tudo aquilo que muita gente aponta precisamente para a criticar.
A Maria João, antes do mais, tem algo que para mim é condição sine qua non de se ser uma boa cantora: obriga-nos a ouvir as palavras que canta. Nisso, é absolutamente genial.
Depois, o óbvio: a extensão vocal que apresenta, indo do registo mais grave e cavernoso ao registo lírico de uma soprano leggero, com uma aparente facilidade assustadora.
O domínio da voz enquanto instrumento, que, mesmo quando não aliado à palavra, constrói universos onde cabe toda a nossa imaginação.
O seu sentido rítmico inabalável.
A postura de menina-mulher, a provar que uma mulher nos seus 50 anos pode manter-se leve e não se deixar cair naquelas ideias estafadas de como uma mulher de "certa idade" se deve comportar.
A sua singularidade. É uma cantora única, tanto em Portugal, como na China. Assim que abre a boca, sabemos que é ela. E isso, para uma cantora, é algo de um valor incalculável. Digamos que é o El Dorado de qualquer músico.
Depois, claro, o seu bom-gosto na escolha de reportório e dos músicos com quem trabalha. Afinal de contas, aquilo que ficará daqui a cem anos, e que irá ser julgado, não é se era bela, magra, feia, gorda, casada, divorciada, com maior número de álbuns vendidos ou menor número. Será apenas a voz e o reportório.
E nisso, a Maria João já ganhou. Mas aos pontos...