segunda-feira, 27 de abril de 2009

Problema de Expressão

A música é uma linguagem universal. E digo-o eu, que estou nos 2 lados da questão, enquanto pessoa com formação em linguística e enquanto músico. Há muitas linguagens para além da linguagem verbal. E talvez até nos possam dizer mais acerca do que queremos expressar do que a palavra humana. Qualquer pessoa que lide com animais, por exemplo, percebe o que quero dizer. Podemos estabelecer um diálogo com um animal sem precisarmos de palavras. Eles entendem-nos na perfeição. Lêem-nos através da nossa linguagem corporal, das nossas expressões e postura, do nosso tom de voz. O mesmo se passa quando tentamos encetar diálogo com alguém que não fale a nossa língua. Tratamos de nos entender utilizando exactamente os mesmos recursos já mencionados. Por isso, não é de estranhar que a percepção da língua não seja fundamental na fruição musical. A música pode existir sem palavra, ou sem a compreensão da palavra, porque é uma arte de mérito próprio. E, no entanto, serve a língua na perfeição, se assim o entender. É isto que é necessário perceber quando nos questionamos acerca do facto de alguém poder gostar de uma música sem lhe perceber o sentido das palavras. É que quando pomos dois veículos de expressão humana tão poderosos a trabalhar em conjunto para um mesmo objectivo, um passa a ser o outro e a apreensão do seu sentido é imediata e intuitiva. A música está feita para a letra e a letra para a música. Mesmo que não se entenda a expressão verbal, a expressão musical encarrega-se de comunicar tudo aquilo que a palavra não consegue. E depois, temos o valor do cantor, do intérprete, que, ciente de que a arte do canto é muito mais do que a criação de sons bonitos, defende a música que canta com a riqueza de recursos que tem ao seu alcance e que são de compreensão universal: a expressão vocal, a expressão facial e a expressão corporal. E depois... Depois, se se quiser mesmo entender ad litera o que foi cantado, haverá sempre o tradutor do google...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Cantar para dentro

Lembro-me de ir a correr para casa, depois das aulas do Secundário, para poder estar à vontade, no sossego do meu quarto, a tocar e cantar as minhas músicas. De levar a guitarra para a escola, para o poder fazer no intervalo.
Depois, quando entrei para a Universidade, a mesma coisa: ora levava a minha guitarra e me sentava no relvado em frente ao Bar Novo, ora ia a correr para casa para cantar.
Desde há uns anos para cá, o tempo que passo a cantar tem vindo progressivamente a suplantar o tempo que passo calada (que já era pouco, que sou moça faladeira) e a necessidade de gerir bem este instrumento que carrego no corpo deixa-me muito pouca margem para o canto a gusto. Mas não me faltam ganas de cantar. Pelo contrário. Para quem, como eu, define a sua vida através da música, haverá sempre uma canção para cada sentimento, para cada emoção que experimentamos na vida. E quando assim é, a vontade de cantarmos para espantarmos os nossos males ou aconchegarmos os nossos bens é muita. Mas não posso. Porque amanhã há concerto. Porque ontem tocámos e tenho a voz cansada. Porque estou naquele período sagrado de descanso vocal, entre concertos.
Mas como sou uma rapariga teimosa, mesmo que não possa vocalizar a música que ouço na minha cabeça, canto para dentro. Fecho os olhos, tapo os ouvidos e ponho-me alegremente a cantar para dentro.