Fiquei a pensar no que me perguntaste. E depois lembrei-me de uma coisa que a Callas dizia. Ela dizia que para se cantar, um dos lados do cérebro deveria estar sob total controlo enquanto que o outro lado do cérebro deveria entregar-se totalmente, sem reservas. Não consigo explicar melhor do que isto o que de facto se passa quando canto. Afinal, La Callas era "Divina" não só pela sua voz, mas por muitas mais e acertadas razões.
Quando cantamos, fazêmo-lo para um público. Não interessa quantas pessoas estão nesse público.
Agora, é a vez de citar Amália. Ela dizia que era fundamental gostar de se ouvir cantar para que o que cantasse saisse bem. Por isso, de todas as vezes que cantamos, temos de nos incluir no público também.
Assim sendo, sempre que abrimos a boca para fazer sons com a voz, há público. Nem que esse público seja o próprio cantor. E como há público, há o dever de comunicarmos as intenções musicais e literárias daquela música o melhor que possamos. Há que estar com atenção à técnica, à respiração, à afinação, ao fraseado, a triliões de coisas, enfim,...
E, se tudo correr bem, se estes triliões de coisas estiverem correctos, então, vamos gostar de nos ouvir cantar e aí, damo-nos à emoção da canção, ao abandono de partilhar aquele momento com o público que nos ouve.
E tudo isto, num movimento perpétuo de razão-emoção que dura aquilo que as canções durarem.
Tudo isto, só para dizer que não deverá haver diferença entre um público que desconheço e um público que amo. Digo, não deverá. Mas será que há? Não sei. Por alguma razão que a razão desconhece, não costumo cantar para o meu amado, fazer-lhe serenatas ao ouvido. Das vezes que tentei, o lado do cérebro que deveria funcionar como razão não funcionou muito bem e não gostei de me ouvir cantar.
Então, calei-me...
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Cantar até fartar
Perguntas bem. E o que perguntas é se o cantor ao cantar as mesmas palavras, as mesmas músicas, vezes em conta, ainda consegue emprestar alguma verdade ao que canta.
O que te digo é que ainda não cantei as nossas músicas vezes suficientes para sentir isso. Nem mesmo quando cantava no bar de um hotel, durante ano e meio, os mesmos temas 3 noites por semana, me senti cansada das músicas de então. Pelo contrário. Depois de todas as vivênvias experimentadas de lá para cá, queria era voltar a cantá-las, porque há tanta coisa que eu não transmiti e que agora vejo que as canções pediam.
Se nos dermos às canções apenas como cantores, será difícil manter a frescura. Mas se nos dermos às canções enquanto intérpretes, então, não há limites para o que lhes podemos acrescentar com a vivência. A nossa e a das canções, claro está.
Depois,..., depois, o importante é ter-se bom material. Boas histórias para contar, boas melodias para defender e bons músicos a acompanhar. Assim, não nos fartamos nunca.
O que te digo é que ainda não cantei as nossas músicas vezes suficientes para sentir isso. Nem mesmo quando cantava no bar de um hotel, durante ano e meio, os mesmos temas 3 noites por semana, me senti cansada das músicas de então. Pelo contrário. Depois de todas as vivênvias experimentadas de lá para cá, queria era voltar a cantá-las, porque há tanta coisa que eu não transmiti e que agora vejo que as canções pediam.
Se nos dermos às canções apenas como cantores, será difícil manter a frescura. Mas se nos dermos às canções enquanto intérpretes, então, não há limites para o que lhes podemos acrescentar com a vivência. A nossa e a das canções, claro está.
Depois,..., depois, o importante é ter-se bom material. Boas histórias para contar, boas melodias para defender e bons músicos a acompanhar. Assim, não nos fartamos nunca.
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