quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Amar e Cantar...

Fiquei a pensar no que me perguntaste. E depois lembrei-me de uma coisa que a Callas dizia. Ela dizia que para se cantar, um dos lados do cérebro deveria estar sob total controlo enquanto que o outro lado do cérebro deveria entregar-se totalmente, sem reservas. Não consigo explicar melhor do que isto o que de facto se passa quando canto. Afinal, La Callas era "Divina" não só pela sua voz, mas por muitas mais e acertadas razões.
Quando cantamos, fazêmo-lo para um público. Não interessa quantas pessoas estão nesse público.
Agora, é a vez de citar Amália. Ela dizia que era fundamental gostar de se ouvir cantar para que o que cantasse saisse bem. Por isso, de todas as vezes que cantamos, temos de nos incluir no público também.
Assim sendo, sempre que abrimos a boca para fazer sons com a voz, há público. Nem que esse público seja o próprio cantor. E como há público, há o dever de comunicarmos as intenções musicais e literárias daquela música o melhor que possamos. Há que estar com atenção à técnica, à respiração, à afinação, ao fraseado, a triliões de coisas, enfim,...
E, se tudo correr bem, se estes triliões de coisas estiverem correctos, então, vamos gostar de nos ouvir cantar e aí, damo-nos à emoção da canção, ao abandono de partilhar aquele momento com o público que nos ouve.
E tudo isto, num movimento perpétuo de razão-emoção que dura aquilo que as canções durarem.
Tudo isto, só para dizer que não deverá haver diferença entre um público que desconheço e um público que amo. Digo, não deverá. Mas será que há? Não sei. Por alguma razão que a razão desconhece, não costumo cantar para o meu amado, fazer-lhe serenatas ao ouvido. Das vezes que tentei, o lado do cérebro que deveria funcionar como razão não funcionou muito bem e não gostei de me ouvir cantar.
Então, calei-me...

13 comentários:

Anónimo disse...

Ora mais uma muito bem respondida. Para quem fazer sons com a voz, só a falar, é muito interessante saber estes detalhes da alma de um cantor. Tenho aprendido muito nesta cadeia de pergunta-resposta. E tudo sempre muito bem respondido.
Um muito obrigado cheio de desejo de muita força e vitalidade nessa voz e alma, e... cuidado com o frio que aí vem!

Anónimo disse...

E cantar no campo, como na "Música no Coração", a correr prado abaixo, sabe bem? ou é melhor um local aconchegante para a voz, mesmo que seja pequeno, mas intimista, tal "casa da Mariquinhas"? É frequente sentir-se vontade de cantar em espaço aberto, fora de um palco? (sempre imaginei que o campo fazia bem à alma, dos poetas, dos filósofos... e dos cantores? )

Anónimo disse...

Ana,
Fui tua colega na FLUL (ainda que um ano mais nova) e vinha pedir-te um favor - se for possível, claro está.
Vi um showcase dos Lupanar na FNAC do Chiado e na altura não comprei o disco da banda. Já me fartei de o procurar depois disso e não consigo encontrar. Podes trazer um para eu comprar quando vieres a Portalegre em Dezembro?
Desculpa a interrupção :)

Beijinhos

Susana

Anónimo disse...

Ahh então é por isso que eu não consigo parar de ouvir os Deolinda... as musicas são todas cantadas com alma num movimento perpetuo..

Ana disse...

Susana,

claro que te levo o CD. Mas podes lembrar-me mais em cima da data, para não haver hipóteses de me esquecer?

Beijinhos.

Anónimo disse...

Uma voz conhece-se assim que a vocalista começa a cantar.
Como dizia o crítico e músico Dave Gelly:« Think of all the qualities you look in a great popular singer's voice-warmth, intimacy,expressiveness. Think above all, of that indefinable sense that the voice belongs to someone you immediately feel at home with...» . Referia-se a Ella Fitzgerald mas julgo que a definição adequa-se a outras vozes competentes.

Por outro lado, houve vozes que entraram muito cedo em decadÊncia como a de Chet Baker, Serge Gainsbourg, Jim Morrison(não era cantor mas declamador)...

Sugestão de audição
SOME VELVET MORNING cop.1967 dueto Lee Hazzlewood e Nancy Sinatra.

Né Ladeiras(qualquer coisa);
Mária Fátima Bravo(ainda que associada ao nacional cançonetismo, fado com orquestra; se tivesse sido norte-americana seria como a Patsy Cline);
Gaiteiros de Lisboa;
Jefferson Airplane(White Rabbit);
Mammas and the Pappas;
Leonard Cohen(cantor trovador declamador-so long Marianne)
The Doors(temas Blue Sunday;Whisful Sinful onde Morrison se aproxima dum crooner)
Amália Rodrigues (tema Gaivota, um poema de Alexandre O'Neill, composição de Alain Oulman)
É uma lista catita, julgo.
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Citação de Amália Rodrigues:
«Gostava de morrer de repente. Acho que as pessoas deviam ser como as maças, caír da árvore»


PAUL PINT (estudante da casa FLUL de 1998 a 2003)

Ana disse...

Paul, então fomos colegas de Faculdade, visto que também andei por lá entre 1996 e 2000. Tirei LLM, Português/Inglês e tu?
Quanto às tuas sugestões, muito obrigada. Algumas assentam-me que nem uma luva:
- Amo Gaiteiros e o Carlos Guerreiro é uma das pessoas mais importantes para mim, pois foi dos primeiros músicos a gostar do meu trabalho, ainda andava pelos Lupanar;
- Sou maluquinha por todo o movimento de Haight-Ashbury e a música que daí saiu, por isso, Jorma Kakounen, Grace Slick e restante pandilha são o AMOR;
- Cass Elliot (ela odiava que lhe chamassem Mama Cass) foi uma belíssima e injustamente obscura cantora, que ficou sempre na sombra dos Mamas and the Papas. Dream a Little Dream of Me é uma autêntica pérola;
- Leonard Cohen: qualquer pessoa que goste da palavra cantada, tem de o amar. Gosto ainda mais dele por ter tido um breve encontro com Janis Joplin (quem me conheceu na Faculdade sabe quão grande é a minha pancada por ela), conforme descrito na sua canção "Chelsea Hotel";
- I'm am the Lizard King - is everybody in? Muito passaram pelo meu programa de rádio no Bar Novo da FLUL estes Doors;
- Amália é outra das minhas paixões assolapadas;
- Né Ladeiras, a maior;
- Maria Fátima Bravo, mais um exemplo de cantora a quem nunca foi atribuído o devido valor...
Vou ouvir agora o dueto que me sugeriste.
Obrigada e beijinhos fluleanos!

Anónimo disse...

Boa tarde Ana
Sim fui um dos alunos da casa das letras, nomeadamente, LLM Português -Francês. Andei na saudosa carreira do 63.
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O tema «some velvet morning » é considerado um tema psicadélico.
Foi escrito por Hazlewood e gravado em 1967 com Nancy Sinatra.
Hazlewood trabalha na área do country & western .
Esta canção chegou ao 26º lugar do Billboard Hot 100 em Fevereiro de 1968.
Quanto à letra, temos uma mulher misteriosa chamada Phaedra. Esta encaminhou(educação) o narrador nos caminhos do amor.
«The male parts alternates with the female part, who identifies herself with Phaedra and speaks overal ethereal, twinkling music about beautiful nature imagery»
(wikipedia/usa)
A letra está no site
www.somevelvetmorning.net
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Para pesquisas musicais da música portuguesa temos o blog seguinte:

rockemportugal.blogspot.com
[ali encoontrei uma foto de Hermínia Silva parodiando a música yé yé]
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Anda para aí uma radio em AM que passa apenas temas dos anos 40 aos anos 70. Vai desde música de revista, fados com orquestra, fado marialva, fado canalha/31, música de baile americana/francesa/italiana.
O mais alternativo que ali ouvi o tema Construção de Chico Buarque e os temas mais trauteáveis dos Mammas and the Pappas. Temos desde Hermínia Silva, Tristão da Silva,Fernando Maurício, António Mourão, Maria de Fátima Bravo, Maria da Nazaré,Maria Teresa(Rua do Capelão), Amália Rodrigues, Beatriz Costa, Zeca Afonso(os temas menos incómodos), Adriano Correia de OLiveira(a mesma coisa não perCebo porquê no século XXI)até Frank Sinatra e Carlos do Carmo, Carlos Mendes,Tordo,P.Carvalho e até coisas mais populares como Green Windows,Duo Ouro Negro,...Faz lembrar aquelas radios de outros tempos para as costureiras, estudantes marialvas, modistas...
É uma estação radiofónica conservadora que ainda faz questão de corar. Chama-se radio Sim. Tem emissão on-line. MAS VALE PELO FADO QUE LÁ PASSA. «Cantar o fado aos turistas »de Hermínia Silva e o «Fado do 31» do Rodrigo são a Lisboa típica bairrista.
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Há algum tempo vi no MEZZO um concerto em Paris de TOM ZÉ, um tropicalista brasileiro(anos 70), iconoclasta,anti-sacrilégios a bater na bossa nova...Dizia mal de Vinicius(o maior filho da mãe do machismo brasileiro...tinha aquele negócio do eterno enquanto dura, isso é mesmo típico do homem carioca de ipanema que dá duas trepadas na garota e vai embora...,outro negócio era o da beleza fundamental,isso era outra coisa ridícula pois a mulher feia está em contacto com o natural..., a mulher bonita não sabe se é p...ou virgem maria, ela é uma mistura das duas coisas...(isto são excertos da entrevista intercalada com o concerto!)
Antes deste concerto tinha apreciado uma actuação de Carlos Lyra recordando seu amigo Vinicius de Morais...A mezzo gosta de contrapor mesmo...Pronto Tom Zé considera a Bossa Nova um género musical de doutores. Há um tema : Dr esse discurso não pega que é um bota abaixo de Vinicius.
Tom Zé critica o discurso não a competência musical/compositora dos criadores da bossa nova. Delembrar que o movimento tropicalista foi uma reacção à bossa nova. A bossa nova por sua vez foi uma reacção à música dramática de faca e alguidar carioca mais popular e virada para dentro. Mas toda esta gente gostava do samba! O samba nunca foi nem poderia ser ignorado.

Já escrevi muito. Chega.

Paulo Pinto
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Anónimo disse...

Que bom poder, por aqui, encontrar antigos colegas da flul, e ainda recordar paixões musicais e adquirir novas propostas. Obrigada aos dois :)
E o que me dizem da voz tão característica da Jackie (2ª vocalista) dos, infelizmente já desaparecidos, Beautiful South?
O canto também sempre foi uma paixão (muito pouco concretizada) e uma voz reconhecível é para mim bem mais importante do que potência ou volume.

Ana, disseste que te relembrasse o cd dos Lupanar, é já amanhã ;) e o bilhete na carteira há mais de 3 meses.

Susana

Anónimo disse...

Cara Ana

Percorri toda a crítica musical(Blitz elogia-te imenso)e naturalmente vocês deram mais um bom concerto. Costuma-se dizer que ao vivo é que se observam as potencialidades/qualidades de uma banda.
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Este Super Bock, Super Rock teve a nível nacional para além da vossa vossa presença, a dos Peixe:Avião,Pontos Negros, Rui Reininho,Doismileoito e João Coração.
Dos estrangeiros parece que Ladyhawk,El perro del mar, Fine Frenzy foram algumas das vozes femininas interessantes.
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Neste evento os estado-unidenses Walkmen apresentaram o 4ºálbum «You and me» que tem o single «in the new year». Do anterior «a hundred miles of» de 2006 destaca-se o «as another one goes by». O seu vocalista Hamilton Leithauser tem uma voz que lembra às vezes Bob Dylan outras Joe Cocker e outras o vocalista dos Animals, Eric Burdon. Não gosto de comparar vozes mas é só para dar uma ideia.
Não se poderá dizer que não é nenhum vozeirão porque a sua voz é assim mesmo mas para aquele tipo de música serve. Só que por vezes parece gritar e cantar não será gritar.
Digo isto porque no rock'n roll mais erudito já temos outros vocalistas na mesma área de trabalho de um Ian Curtis, Peter Murphy...e isso vÊ-se em bandas actuais como os Interpol, Editors,she wants revenge...
Depois nos revivalistas da pop anos 60 temos actualmente bandas e respectivas vozes certinhas(Camera Obscura da Escócia-2 vozes femininas, Acid House Kings da Suécia e The Thrills da República da Irlanda). Passando para os cantautores mais poéticos aí apareceram uma Brisa Roché, Patrick Cleandenim, Richard Swift,
Devendra Banhart nos USA...e outros pois têm aparecido projectos estimulantes do Norte da Europa.
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Sugestões musicais:
Qualquer coisa de electric folk como Fairport Convention
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Voltando aos Deolinda digo-vos que aprecio bastante o tema Clandestino.
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Sobre Madredeus: já não há Teresa Salgueiro. Agora estão numa fase cósmica com outra banda.
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Esqueci-me de mencionar também as vozes de Stuart Staples(Tindersticks) e Neil Hannon(Divine Comedy)e a voz teatral de Jarvis Cocker(Pulp).
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Até breve
Paulo Pinto

Anónimo disse...

Salvem os milionários? .... Muito bem jogado! Excelente!
Força nessa voz

Anónimo disse...

Por aqui falou-se dos britÂncicos Beautiful South. Foram uma banda competente.
Creio que tiveram duas vocalistas.
Naturalmente farão parte das listas de vocalistas a recordar.
Dos USA havia um banda da mesma área de trabalho os Six Pence Non The Richer com uma moça com uma voz agradável. Eles gostavam muito de François Truffaut e de Paris.
Um bem haja para a Susana.
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Quanto à Ana espero que os concertos próximos corram bem.
Por esta altura experimenta-se muita música dos compositores Bach, Charpentier, Messian e porque não Rachmaninov?
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Na música actual de finais de 2008continuam os descendentes musicais de Beach Boys. E ainda bem...
Na mesma área o quinteto estado unidense FLEET FOXES . Os 5 tÊm encantado os críticos que acham que eles também ouviram muito THE BAND e BOB DYLAN.
Também da mesma terra o duo BEACH HOUSE. Um som celeste, puro, honesto, com Alex Scally na guitarra e voz e Victoria Legrand no órgão e voz. Mais informações em
www.beachhousemusic.net
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Bom trabalho Ana
Até breve.
Paulo Pinto

Anónimo disse...

http://www.myspace.com/fleetfoxes

Pois é já os tinha ouvido na Radar FM em 97.8 através de Nuno Galopim
no seu programa Discos Voadores.
Deixo acima uma amostra de 5 temas dos FLEET FOXES. Este quinteto de Washington, Seattle, USA começou a tocar em 2005.
Destaco o tema "White Winter Hymnal. "
Gostei também do tema "Heard them stirring". São harmonias vocais dignas. Claro que estes rapazes devem ter ouvido muito Brian Wilson, Neil Young, Crosby, Stills, Nash & Young, The Band ... e ainda bem. Bom trabalho
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Paulo Pinto